Ampulheta.

domingo, 10 de abril de 2011
Hoje acordei assim: como quem não se preocupa com que horas são, ou por quanto tempo dormiu, ou quantos minutos vai levar no espreguiçamento nosso de cada dia.
Hoje é domingo, não há toda aquela correria de todos os dias, eu não preciso trabalhar, não preciso dar satisfação nem trocar o pijama surrado, não faz falta a maquiagem ou o salto alto, ausência de trânsito e buzinas, abstinêncai daquele sorriso amarelo que você tem que ter norosto mesmo que aquela cólica aguda esteja comprimindo cada milímetro do seu baixo ventre, a desobrigação de cumprir metas horários e tarefas. Nada!
Hoje sou eu, o meu par de havaianas, a blusa preta de faculdade que me recuso a tirar do corpo e meus papéis, canetas e desvaneios, E não, você não entendeu ou leu errado, são meus papéis e canetas sim, gosto de ajoelhar ao pé da cama e exercitar a caligrafia e a poesia que está presente em cada um dos meus neurônios.
E hoje, logo hoje, eu entrei numa ânsia incontrolável de escrever sobre o tempo. É que repentinamente me dei conta que o tempo está passando eu ando me importando em prestar atenção e ver ele passar. Confesso que fiquei por um longo momento pensando sobre isso, afinal, o que é mais importante: deixar o tempo ir sem freio ou policiar cada minuto na vã esperança de não gastá-lo insanamente?
Hoje enquanto a maioria das pessoas estavam "...num dia de domingo procurando novas drogas de aluguel neste vídeo coagido..." que tem se tornado a televisão, como diria Marcelo Yuka, hoje estou analisando o sentido do tempo, mas pensei e não tinha chegado a conclusão nenhuma, até que num estalo me dei conta do quanto somos medíocres e minimalistas ao considerar que o tempo se resume a horas e pode facilmente ser dividido em passado presente e futuro. Vai muito além, e de repente foi tão fácil perceber isso que quase me condenei por não tê-lo feito antes.
Vejam só, temos o costume de pensar que passado aconteceu faz tempo, bem assim, mês passado, ano passado, verão passado, década passada, e por ai vai, como se o presente fosse tão longo que daqui que vire passado já passou uma vida. Tolos. E pior, planejamos grandes coisas pra um futuro que em nossas cabeças só virá daqui a não sei quanto tempo...
Foge-nos da percepção a simplicidade com que o tempo anda, afinal, a frase que você acabou de ler já ficou no passado. Foi. Um minuto atrás já é passado, o que era futuro já virou presente e o presente é o instante agora em que você se faz entender o que eu estou dizendo. Simples assim!
E por ser tão fulgaz, tão fino, tão transparente e fugidio, nós o perdemos de vista... Faça assim: se quiser parar no meio do dia e cantar, cante. Se estiver ouvindo uma música e quiser dançar, não se contenha, dance. Se sentir vontade de gritar, sorrir pra um estranho, ou surtar no meio de uma avenida cheia de gente, faça. Porque hoje o objetivo é desenhar o agora, o presente, e quanto ao futuro, se só vem amanhã a gente deixa pra escrever depois.

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