Tributo à vida.

segunda-feira, 4 de abril de 2011
A segunda feira acordou preguiçosa, cansada, lenta, quase sonâmbula. Bem como criança que não quer ir pra escola em dia de inverno...
Ainda não é inverno, e mesmo com o dia já quente e o sol já alto e bem claro, ela insistia em ficar embaixo das cobertas, mas já estava muito incomodo pra permanecer lá e, querendo ou não, todo dia tem que virar dia quando o galo canta. E o galo já tinha cantado faz tempo.
Ela levantou, fez o que deveria fazer, tomou um café tão preguiçoso que agora ainda deve estar fazendo a digestão, tomou banho e foi trabalhar.
A mesma rotina chata, o cotidiano nosso de cada dia, o sono.
Maldita segunda feira, dizia. Não queria acordar, não queria ter que trabalhar, levantar, ver os mesmos rostos. Nada. E mais uma vez: -Maldita segunda feira!
Reclamava de tudo, coitada, preferia o ócio, o abrigo do sono mais profundo, não se preocupar se hoje já é amanhã. Reclamava; tanto que xingou o café amargo que bebeu pra se manter acordada por ele estar funcionando.
E  a  manhã, contra sua vontade - ou não - foi avançando e seguindo seu curso arrastado.
Agora já era meio dia, pronto, metade desta segunda já passou, metade desse dia que se fosse por escolha dela ainda seria noite.
De repente, a bomba. Um impacto que ela não esperava num dia daquele.
Porque a vida tem que acabar pras pessoas verdadeiramente puras de coração? Um estalo.
A mulher que a ensinou que a vida só é boa, alegre, suave e feliz se você assim o quiser.
Câncer? O que é o câncer? Uns tem, outros não, só isso; um jeito um tanto duro de a vida mostrar o quão frágil ela pode ser.
Distância dos filhos? Dói, mas tem remédio, principalmente se eles sentem saudade e vêm passar uma noite com você só pra deixar claro que amam.
Quimioterapia? É incomodo sim, mas o ser humano é adaptável, é camaleão, é guarda chuva quando chove e protetor se faz sol. Ser humano é ser, independentemente das situações, humano.
E ela o era, a mulher com o rosto mais radiante que já conhecera, a única até hoje capaz de respirar felicidade, tanto que em dias 'tristes' cantava, mas não só cantava as palavras, ela cantava a vida e o amor que sentia por ela...
Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser,
diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer
Chega, de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver sem mim...♪

Pois é, agora ficou a saudade, a falta, a vontade de ter dado um abraço antes que o ar abandonasse os seus pulmões. Ela se foi, fechou os olhos e não teve mais forças pra abrir. A mulher forte acaba de ser vencida pela morte, ou melhor, dessa vez a morte perdeu porque mesmo inerte ela ainda é prova viva de que a nossa vida é a gente quem faz. Quanto a moça, hoje ela é capaz de saber que viver vai além de abrir os olhos todo dia, viver é se jogar num abismo que de tão fundo é impossível ver o chão, e torcer para que as asas só parem no último minuto e os olhos sejam corajosos o bastante pra se abrir e ver o quão belo pode ser o vôo!
Saudades eternas Tia Alda...

0 comentários: