O que é ler?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Hoje perguntaram a uma sala cheia de alunos pingados o que é ler. Pergunta estranha, não?!
Sinceramente não sei o que você responderia, mas eu esperei respostas excepcionais à esta questão, mas não, para minha surpresa a única resposta foi: "Ler é interpretar as linhas e entrelinhas daquilo que o autor escreve."
Não sei se o leitor deste texto concorda, mas eu fiquei estupefata. Estupefata sim, por que não?!
Interpretação é tradução simultânea quando o diretor da multinacional russa não sabe falar português, é entender o que dizem os olhos que infelizmente, ou felizmente, não possuem boca, é dicionário quando a garotinha olha pro pai e pergunta o que quer dizer inexequível, é matemática se de antemão já sei que 2 e 2 tem de ser 4, é exatidão porque no papel do livro, pra quem interpreta, existem só palavras juntas a fim de imprimir o pensamento, é limitar porque se há interpretação, há certeza, e desta forma existirão diversas interpretações equivocadas, é gramática, é concordância, mas definitiva e indubitavelmente interpretar não é ler.
Ler é liberdade. Sim, liberdade, voo livre, asas. Pois veja bem, se certo autor fala de uma igreja, no momento em que escreve pensa numa capela com sinos no topo de uma pequena torre, mas quando o moço que leva o livro pra ler enquanto esta no metrô lê a tal igreja vai imaginar uma estrutura imponente de pedra como as igrejas da idade média, e eu quando soube da mesma igreja pensei numa construção feita de madeira branca e vitrais coloridos. Ora, se cada um que ler imaginar a igreja de uma forma diferente em algum momento ela deixará de ser igreja? Não. Entende agora? Quando a gente liberta a mente pra leitura, a gente desacorrenta o espírito, liberta-se dos preconceitos, porque quem realmente sabe ler entende que assim como a igreja, não interessa se a moça sentada ali na frente é homo ou heterossexual, ateia ou católica apostólica romana, negra ou branca, analfabeta ou doutora, ela continua sendo uma pessoa.
Por isso que vez ou outra penso que ler devia ser proibido porque não são todas as pessoas que estão prontas para a liberdade que a leitura proporciona; afinal, penso eu que não adianta entender qual a cor das botas do Pequeno Príncipe ou com que tipo de pena nasceu O Príncipe de Maquiavel ou quantas doses acabaram por deixar ressacados os olhos de Capitú, se eu não sei ser despojado de PREconceitos como era o principezinho, não faço gritar minhas crenças acima do barulho uníssono na maioria que segue as mesma placas indicativas de bom comportamento com fez Maquiavel, nem consigo ter discernimento para assim como a "cigana oblíqua" manter-me firme diante de acusações em momentos em que o silêncio confere a maior das grandezas.
Sendo assim, tenho por mim que: Ler é decidir, ao abrir o livro, que já pode ser livre o bastante para abrir a alma.

Terezinha

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Andou por ai escutando uma música de Chico Buarque que dizia de amores diversos que tentaram roubar o coração da mocinha da história e de repente se viu ali, no meio da música, do conto.
Viu seu primeiro amor, aquele moço de academia, de imagens e aparências, aquele que chegou festejando vitória, chamando-a de rainha, trazendo presentes, cotas, mimo, ametistas e cantando carteiras, o tal que a usava de troféu, de mostra de capacidade, mas que no todo servia apenas de âncora. de peso, de atraso. Mostrou tanto, ofereceu tanto e no fim depois de nada entregar, ela disse Não.
Viu então o segundo amor, o quebrado, bêbado de alma de tanto que tinha bebido de outro amor e só ganhara ressacas, e assim quando ela o encontrou o reconstruiu, bebeu muitas doses de uma água ardente que era amarga de tragar, mas suportou, fez do rapaz um moço deveras feliz, mas as vezes pensava consigo se a felicidade dele bastava para que ela fosse feliz e a falta de respostas a fez estremecer, e depois de ter as gavetas revistadas, de ser cheirada, tomada, controlada e se encontrar perdida, sentiu o peito estremecer, assustou-se e disse Não.
Viu, finalmente, o terceiro amor o que parecia ter menos a oferecer, o que chega sem dar avisos e relâmpagos, veio como quem não quer nada, também não trouxe nada, nada pediu, não perguntou, não questionou, não pressionou, e antes dela conseguir lembrar direito qual era o nome dele, ele já tinha devastado ela por inteiro, já tinha ensinado ela a ser outra, a diferenciar as pessoas que acrescentavam e as que não, ensinou ela a se impor, mostrou que é sorrateiro, se instalando feito posseiro, meio sem dar ou esperar demais que se alcança o fundo de um coração, e antes que ela se amedrontasse e, como em diversas outras vezes, dissesse não, se acomodou e tomou seu coração. E foi assim que ele se tornou dono do coração dela antes mesmo de saber que ela já era dona de seu próprio coração.

Long live.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
PS.: Antes de ler o texto, favor iniciar a reprodução da música que se encontra logo após o texto, claro que é opcional, mas é que quando imagino alguém lendo meu texto só consigo observar a cena completa com esta música como trilha sonora.


Sabe quando a gente acorda e o primeiro pensamento é ele? Quando a vida anda diferente e mais bonita, quando a gente sabe a cada minuto que é feliz, quando você começa a simpatizar com aqueles defeitos irritantes, quando você finalmente sabe que dessa vez não vai ter adeus, não vão escorrer lágrimas, não vai haver separação, não terá as fotos perdidas nos armários ou livros que só trazem nostalgia, não sentirá saudades do juntos, não ecoarão as músicas dos tempos bons.
Nada disso, nada de sofrimento, nem de recolher os presentes, nem readaptação, nada.
Só você e ele, ou ela, "até que a morte os separe".
Só você e ele até o -Eu aceito.
Só você e ele quando aparecer aquele inseto asqueroso no banheiro.
Só você e ele quando o encanamento entupir porque a pia estava cheia dos restos do jantar de ontem.
Só você e ele até que no meio da noite você tenha desejo de comer pizza de sorvete de café.
Só você e ele até a primeira fralda suja na madrugada.
Só você e ele até o primeiro dia de aula.
Só você e ele até o primeiro namorado, a primeira desilusão, as recuperações semestrais, o primeiro porre, a faculdade, os outros namorados, o noivado, o casamento e os netos.
Só você e ele.
E sabe o que é mais impressionante? É que mesmo sendo apenas você e ele, você nunca se sentirá só, desamparada, desprotegida ou em dúvida, porque ele vai estar ali sempre. Sempre!
E ele vai te completar, te abraçar, te fazer sorrir, te botar pra dormir, te acarinhar, te enxugar as lágrimas, te fazer crescer, te mudar ou te moldar quando necessário e te segurar quando você for cair e só de olhar pra ele você se sentirá segura porque ele é aquela ponte que vez ou outra balança mas que é forte o bastante pra você dar o primeiro passo e ter certeza que é sobre ela que você irá atravessar a vida.


Post direcionado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012



Estava ouvindo "Best thing I never had" da Beyoncé, o que é engraçado porque não costumo escutar ela por livre e espontânea vontade, mas hoje tinha que ser, eu tinha que estar escutando esta música quando li o status da A. O. que dizia:

"Bom dia, feliz hoje com gostinho de amor Chegouuu =D Seja Bem Vinda a sua nova casa e ao meu coração..."

Pronto, estava feito, a coincidência foi tanta e tão absurda que tive que escrever sobre como o destino brinca conosco e nos faz achar que tudo que temos hoje é o suficiente pra sermos felizes pelo resto da vida e sendo assim nos contentamos em, noite após noite, sentar na mesma cadeira e comer a mesma comida e assistir ao mesmo programa de TV e dormir do mesmo lado da cama imaginando que não há ninguém no mundo que seja mais feliz que nós. E na verdade não há, mesmo que estejamos presos pela visão míope do amor, ainda assim somos felizes, e então, aos poucos o chão começa a se abrir e a gente vê cada costume desses ir caindo num buraco que é cada vez maior e maior e a gente não entende o porque de a vida simplesmente começar a conspirar contra o nosso mundinho que parecia estar a salvo, inacessível, e acabar aos poucos com a nossa felicidade. E quando isso acontece, e o buraco engole tudo, e a cadeira, a comida, o programa, e, principalmente, a cama começam a perder o sentido, a gente acha que não dá pra continuar.
E chora, grita, debate o destino, esperneia, se revolta e finalmente aceita.
Todavia a aceitação é o passo mais complicado, o maior, o mais difícil, e quando ele é dado, a ferida fecha, mas não desaparece, é como aquela cicatriz no joelho daquela queda que você levou quando era criança; hoje não dói, mas cada vez que você olha pra ela lembra que devia ter escutado quando o pai disse que era muito cedo pra tirar as rodinhas.
E você deve estar se perguntando o que os finais tem haver com tudo isso e porque a música faz parte desse texto até agora quase sem sentido. E a resposta é justamente essa: o quase.
Um alguém começa a frequentar sua vida, a atravessar seus caminhos e você larga tudo, mete o peito, afronta a família, briga, decepciona alguns amigos e finalmente assume esse amor como um todo. Os anos passam, e tanto tempo depois, você ainda briga pra sustentar isso que você imagina ser felicidade, e a música diz: "Cuz honestly you turned out to be the best thing I never had". E é justamente isso, algumas pessoas nunca deixarão de ser a melhor coisa que a gente nunca teve por inteiro, aquelas que a gente quase teve por completo.
Mas quando você supera o quase e passa a experimentar o mundo de novo, finalmente entende que a vida nos dá finais com o único intuito de reciclar o nosso coração para outros novos e melhores começos.

És ou não saudade?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ô menina, que costume feio esse que tens de sentir saudade exaustiva de tudo.
Finges a ti mesma sentir saudades dos ares, das pessoas, das coisas, dos lugares, das paisagens, das cidades, dos lençóis, dos suores, dos abraços, dos amores, de tudo. Não é por mal, eu sei, é que é inerente ao ser humano esse exagero e a futilização equivocada de todos os momentos e lugares e pessoas que vive. É que ainda não parastes pra entender que a saudade é sentimento egoísta, não costuma se subdividir por vários cantos como quem espalha cartões de visita. Saudade é sentimento com mania de grandeza, não permite dar-se a qualquer coisa, e sim menina, estais iludida quando imaginas sentir saudade do sushi do Shitake*, isso são lembranças.
Entendes agora a diferença?
Lembranças são as memórias que guardas de bons momentos, boas conversas, boas companhias, que te fizeram bem ontem ou mês passado ou a sabe-se lá a quanto tempo, e hoje, ao sentares na varanda ainda dão uma vontade de mais. Saudade não.
Saudades são os gostos que depois de anos ainda és capaz de sentir no céu da boca; as expressões que aprendestes com aquela amiga de infância e que falas até hoje; os cheiros que lembram ao olfato as preferências amadeiradas daquele novo velho amigo que te faz um bem danado; saudade é fechar os olhos e conseguir, nem que seja por um segundo, sentir o gosto, o jeito, o peso, do beijo daquele que amas. Isso é saudade.
Aprende, menina, que aquilo que lembras é passado, e aquilo que nostalgias é passado que volta a todo presente pra te tirar aquele sorriso tão genuíno de canto de boca. Agora, tenhas certeza que, se sentistes saudades, saudades mesmo, não lembranças, daquele tal garoto que te levou além do que imaginavas é porque ele é tão importante, que essa saudade já era dele antes dele ser.

*Shitake: Restaurante especializado em culinária oriental.