És ou não saudade?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ô menina, que costume feio esse que tens de sentir saudade exaustiva de tudo.
Finges a ti mesma sentir saudades dos ares, das pessoas, das coisas, dos lugares, das paisagens, das cidades, dos lençóis, dos suores, dos abraços, dos amores, de tudo. Não é por mal, eu sei, é que é inerente ao ser humano esse exagero e a futilização equivocada de todos os momentos e lugares e pessoas que vive. É que ainda não parastes pra entender que a saudade é sentimento egoísta, não costuma se subdividir por vários cantos como quem espalha cartões de visita. Saudade é sentimento com mania de grandeza, não permite dar-se a qualquer coisa, e sim menina, estais iludida quando imaginas sentir saudade do sushi do Shitake*, isso são lembranças.
Entendes agora a diferença?
Lembranças são as memórias que guardas de bons momentos, boas conversas, boas companhias, que te fizeram bem ontem ou mês passado ou a sabe-se lá a quanto tempo, e hoje, ao sentares na varanda ainda dão uma vontade de mais. Saudade não.
Saudades são os gostos que depois de anos ainda és capaz de sentir no céu da boca; as expressões que aprendestes com aquela amiga de infância e que falas até hoje; os cheiros que lembram ao olfato as preferências amadeiradas daquele novo velho amigo que te faz um bem danado; saudade é fechar os olhos e conseguir, nem que seja por um segundo, sentir o gosto, o jeito, o peso, do beijo daquele que amas. Isso é saudade.
Aprende, menina, que aquilo que lembras é passado, e aquilo que nostalgias é passado que volta a todo presente pra te tirar aquele sorriso tão genuíno de canto de boca. Agora, tenhas certeza que, se sentistes saudades, saudades mesmo, não lembranças, daquele tal garoto que te levou além do que imaginavas é porque ele é tão importante, que essa saudade já era dele antes dele ser.

*Shitake: Restaurante especializado em culinária oriental.

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