A tarde de hoje.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Logo, estávamos nós, perdidos em nossa súbita felicidade de nos sabermos ali, dividindo o mesmo oxigênio, o mesmo espaço, o mesmo ar. Então seus olhos no meio do de repente que a surpresa de ver trouxe, gritaram em silêncio a alegria de me ter sem esperar, pareceu, portanto, que quanto menos te preparavas para mim, mas estavas pronto a me ter nos braços. Genuíno.
A pele, ainda com o cheiro dormido de quem despertou das fantasias a pouco, me levou direto àqueles momentos curtos, rápidos, que passamos, fugidos de nossas realidades, perto de uma praia qualquer. Repentinamente veio a lembrança das tardes chuvosas que passamos esquecidos numa cama de hotel imaginando levianamente que o mundo resumia-se aos nossos lençóis e que o resto dos humanos eram apenas memórias remotas de outra vida que tivemos antes de termos involuntariamente cruzado nossas existências. Devaneios.
E ficamos proseando, lançando palavras sorrisos olhares sentidos sentimentos enquanto o tempo passava e a felicidade de ser um do outro aumentava intimamente em cada um de nós. Eu pensando comigo que você não percebe, ou talvez perceba, que as suas respirações são suficientes pra que lá dentro eu possa ser deveras mais feliz. Confissões.
E me dissestes que em outras fotos que temos somos mais bonitos e estamos mais focados, e eu ri internamente e desejei que você entendesse o quanto aquilo soava contraditório e tolo, desejei que você me explicasse quem foi que disse, e comprovou, que as fotografias mostram nossa beleza e nosso foco, que num flash podemos ser melhores ou piores, ser escuros ou claros, ter os olhos castanhos ou vermelhos, sermos vistos ou passarmos despercebidos. E ri, ou melhor, gargalhei analisando eu comigo mesmo o tanto de vezes que temos essas manias de fazer de nossas caras e bocas meras impressões ou digitalizações dos momentos e sentimentos que vivemos. Piadas.
Constatei isso ao mesmo tempo em que escrevi nas minhas anotações de rodapé a observação pra lembrar de não esquecer aqueles dias que seriam sempre ontem na minha memória. Depois rimos juntos do carinho espalmado que costumo lhe dar e da ternura mascarada de revolta que você sempre costuma expressar quando isso acontece, sobretudo rimos e fomos felizes, e isso me amedrontou, penso eu que quando somos muito felizes ficamos muito frágeis, vulneráveis. É por isso que o ser humano foi feito pra correr atrás da felicidade ao invés de encontrá-la, por que quando somos felizes tendemos a encarar, comer coragem e dar a cara a tapa, não pensamos em riscos, não temos preocupações com o amanhã, não desconfiamos, não vigiamos, acreditamos nas pessoas porque no momento em que somos felizes, queremos ser e nada mais; ficamos expostos. Fatos.
E tem outra coisa, ser feliz cansa, deixa a gente exausto, febril. Adormeci e sonhei que estávamos novamente juntos, eu você e o mar, e você sorria pra mim constatando o que o braço que me abraçava enquanto eu mergulhava nas minhas próprias divagações já afirmava: Eu estava segura, protegida. Confesso que tive receio algumas vezes por saber que você podia escolher outra enquanto eu escolhia ele, mas hoje enquanto eu dormia todo o resquício desse tempo passou, se foi como aqueles garotos que ficam no sinal e depois somem no nosso retrovisor. Eles sumiram, a gente ficou. E ficou não porque era mais importante, porque merecia mais, porque era melhor. Ficou porque tinha de ficar, porque você é o meu lado direito, minha razão, e eu sou o seu lado esquerdo, a emoção, e um corpo não anda por ai e sobrevive se estiver partido, rasgado. Dividimos um coração e um cérebro só. Sem o cérebro o coração não bate, mas sem o coração e cérebro não vive, e quem somos nós para cogitarmos ou irmos contra a verdade que nos acompanha, somos felizes não por sermos as melhores pessoas do mundo, aliás desconfio que nem estamos entre as 100.000 mais. Mas somos essenciais um ao outro e somos as metades um do outro, e metade não é melhor nem pior, é ideal. Certezas.
A tarde de hoje teve manhã, tarde e noite, mas foi atemporal. E agora, terei que achar um espaço especial entre as películas dos nossos momentos que se acumulam nas minhas estantes pra guardar esta de hoje, a deste filme sem fim que sonhamos e vivemos. Sei que quando acordei vi o canto vazio do meu lado, o corpo foi embora mas a alma ainda estava ali em letras borradas, apressadas, escritas no verso de uma fotografia desfocada e tremida que dizia: "Amo você minha eterna amiga, namorada, mulher, companheira, vida... 'Eu sabia que você seria minha, porém eu não poderia determinar quando seria.'" Li e sorri de canto de boca comigo mesma, mal sabia ele enquanto escrevia que foi na tarde de hoje. Plenitude. Amor...

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